MÁSCARAS ÓBVIAS

23 janeiro 2006

Corpo de ninguem...


Ao me olhar nu frente ao espelho, peguei-me em pensamentos. Nada como descobrir-se sedutor, ter um tesão próprio e saber fazer alguém feliz.
É isso ai, descobri me com um grande talento para satisfazer alguém, fui capaz de passar por muitos lugares, muitos travesseiros, num misto de mãos, línguas e olhares safados que em algum momento desejaram-me.
Porém, nunca me dei conta de como, quantos, quem e onde tudo isso ocorria. Quando me via já estava envolto a lençóis alheios e o sentimento de culpa levava-me de volta ao meu chuveiro, sentido a água morna purificar-me de todas aquelas marcas impressões deixadas em corpo, de toda aquela saliva que tomava conta do meu pescoço, cabelos, e nuca.
Sempre pensei em ser absolutamente de alguém e como me comportaria nesse papel de ter um único amante, uma boca dona da minha... Estou aqui, mas descobri que não sou dele, de mim ou muito menos serei de alguém. Sinto a necessidade de ser sempre do próximo, ou talvez próxima.

Ao sair pela cidade, reconheço olhares e sorrisos maliciosos pelos lugares que passo. Uma boca familiar no ônibus me diz “Oi”. Em uma loja de Cd’s, atrás do balcão, mãos que hoje apertam as mãos dele, apertaram meu corpo contra o seu próprio há um mês atrás em meu quarto. Ops! Reconheço aquele par de coxas?!
Ao caminhar em direção a um quarto para o pecado, esbarro com olhos que me fitaram nu, certa vez em gozos múltiplos.

Em pensamentos libertinos e até saudosos de diferentes amantes daquele ao meu lado. Ouço uma voz no vazio daquilo tudo ao meu redor:

Você o conhece?

Ah, sim, é um amigo... Vamos embora?

Se ele soubesse o que faço em suas ausências... não me culpo, o desejo do meu corpo é maior do que a minha fidelidade. Descobri que o amor é psicológico. Defino-me um incompleto e sempre apaixonado pelo mundo, porém ceder meu corpo ao próximo para mim é uma questão de boa ação, dividir minha carne e meu prazer é essencial.

Meu sexo para mim não torna-se exclusivo apenas de uma pessoa. Sexo para mim não é uma celebração, é uma necessidade de alimentar o EGO alheio.
Quer experiência melhor quando falam em confidência que você é delicioso? Sentir o descontrole mutuo, ver aquele lhe desejar ali mesmo, arrancando-lhe um pedaço de carne, pedir por tudo que durma com ele de novo...
Sinto-me querido, entre braços, pernas, mãos, bocas, línguas e trocas de salivas a parte... Meu cheiro penetra no corpo que conheci a pouco e ao pé do ouvido posso ouvir em pleno centro da cidade em um dia de muito sol.:

Saudade de você. Dorme comigo hoje? Vai, dorme comigo só mais esta vez?

Posso te ligar depois?

Ainda insisto nessa pergunta, por que se sei que dificilmente irei ligar, geralmente consigo apenas ceder-me em braços desconhecidos por uma única vez.

Concluí; Em uma manhã acordei em um quarto de hotel, observei seu corpo nu ao meu lado, insistindo em ampara-me quando o corpo que ampara é o meu.
Entendi naquele momento, que a fidelidade de corpo é sem dúvida abrir mão da vida e do prazer da carne. Abrir mão de muitas bundas durinhas, bocas ainda vivas, línguas quentes na juventude e olhares expressivos para uma boa foda.
A fidelidade foi inventada por quem nunca soube viver, talvez um mal amado qualquer, um dissoluto.

O prazer pode gerar lágrimas ou petrificar um coração pulsante. Mas sem o dom de amar, canso de me perguntar. Onde serei capaz de descer nessa putrida vida? Até quando conseguirei olhar-me no espelho?
Levanto-me e ele ainda dorme o sono dos justos... e tudo que preciso é remover essas novas marcas em meu corpo, uma ducha com água morna, pois sei que você logo me espera.

Você é capaz de me esperar?
Hein?!
Precisa de mim?
Que ótimo, acabe a leitura, por que eu também preciso de você... Mas só por está noite...