a viagem de bergman e antonioni
olha, sou bem propenso a acreditar só naquilo que vejo, mas, perante a algumas situações da existência, minha faceta supersticiosa sempre aflora. é o caso das sucessivas perdas mortais de bergman e, logo depois, a de antonioni. eu arrisco a dizer que bergman, após ter se desapegado de sua matéria já velha e inválida lá na ilha de faro, na suécia, e se sentindo, então, muito bem com essa libertação a caminho do nada, se compadeceu com o estado de seu colega de profissão antonioni, cinco anos mais velho que ele e já também inválido e só dando trabalho, e assim resolveu fazer uma visitinha lá em roma, na itália, antes de seguir viagem para a dimensão do nada. a viagem durou algumas poucas horas dentro da matemática do tempo. chegando lá, e se encontrando com antonioni, bergman apenas disse: "o que tinha de se fazer a gente já fez, o que tinha de se passar a gente já passou. o espetáculo por aqui não é mais p'ra gente, o que que cê acha de ir comigo p'ruma outra dimensão? que tal o nada? lá também deve se encontrar o vazio.". convite feito, antonioni, não podendo mais falar, apenas foi.
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os personagens compostos por antonioni são inquietos seres perdidos a perambular no incerto caminho da existência em busca de sentido - isto é viver. e isto é bem mostrado em sons ruidosos e em imagens silenciosas da vida em seus filmes.
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lindas fêmeas insatisfeitas, homens em busca de rumo, as perambulanças dos personagens de antonioni significam a busca por caminho, num road movie peculiar, que sempre adorei de fazer com eles.
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certa vez, escrevi aqui neste blog:
"O CINEMA DE ANTONIONI
TEM O SILÊNCIO
DO ENTARDECER
DE UM DOMINGO..."
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um evoé, um saravá e outros orixás...
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VIVA ANTONIONI!
(Sérgio Pontes)
