MÁSCARAS ÓBVIAS

29 janeiro 2007

o atentado

o rodo de cabo de madeira moldado por plástico de cor branca, e com sua cabeça de rodo também de plástico, só que mais consistente, e com o cabelo de borracha preta típico de rodo, serviu-lhe como o projétil da arma, ali, ao seu lado, dependurado na grade da janela. a arma, bem, era ele mesmo, com o auxílio dos dedos, das mãos, dos braços... em sua fúria troglodita, cega ou quase cega, e retardada. a vítima foi a porta de vidro, vitimada por três tiros da mesma bala de rodo alve-negra. momentos depois de atingida, a pobre porta, objeto inocente na istória, foi socorrida por seu próprio algoz, já desafogado de sua fúria, e enfaixada com cartolina branca e adesivo por ele mesmo, à espera de um vidraceiro para sanar as feridas de seus vidros, e assim voltar novamente a ter vida normal de porta.

17 janeiro 2007

E n i g m a
o homem decifra a noite
cores perdidas
no sem sentido das estradas
maciez e voz
apagando imagens

o homem decifra o espelho
metáforas duplicadas
no sem sentido das conversas
máscara e medo
espalhando suicídios

o homem decifra o homem
viagens selvagens
no sem sentido das mudanças
lança e morte
cobiçando cinzas

mesmo assim o homem habita
a noite
estrelas em mudança
estradas duplicadas
no sem sentido
das conversas selvagens

as cores, as metáforas, as viagens
pensando
a cegueira das feridas

o homem chora
cheira terrores
na inquieta maciez da morte
o homem guarda
grandes campos
na máscara cobiçada dos suicídios

do outro lado
o avesso do homem
tarde azul
c a i n d o.

By Leontino Filho

16 janeiro 2007

Não, não quero ser feliz.

"Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não tem coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz, e preferem a medocridade." ["Medo do Desconhecido" de 07/10/1967 em A Descoberta do Mundo]

"Um passo antes do clímax, um passo antes da revolução, um passo antes do que se chama amor. Um passo antes de minha vida - que, por uma espécie de forte imã ao contrário, eu não transformava em vida; e também por uma vontade de ordem. Há um mau-gosto na desordem de viver. E mesmo eu nem saberia, se tivesse desejado, transformar esse passo latente em passo real. Pelo prazer por uma coesão harmoniosa, pelo prazer avaro e permanentemente promissor de ter mas não gastar - eu não precisava do clímax ou da revolução ou de mais do que o pré-amor, que é tão mais feliz que amor. A promessa me bastava? Uma promessa me bastava."[A Paixão Segundo G.H.]


clarisse, clarisse, clarisse

11 janeiro 2007

"rechonchuda"
é uma expressão bem da rechonchuda, não?



















as rechonchudas,
ou,
como dizia papai,
"as gostosonas",
de renoir.

10 janeiro 2007

medíocre
ô gente medíocre, eu sou um medíocre. só que eu sei que sou - medíocre. o que não sei, é mais medíocre ainda. o grande é um grande - ou pequeno? - medíocre... o pequeno, bem, é medíocre já no nome. o médio é = à medío-cre, em um dos seus sentidos. o médio, bem, também pode ser eu. tem medíocre que é tão medíocre que nem sabe que é medíocre. medíocre?

04 janeiro 2007

Estrelas elétricas

As luzes da cidade
ao longe
me são
estrelas elétricas,
pingos pontos
cerejas luminosas
a enfeitar
o bolo Terra.

*

O cosmo
de cabeça p'ra baixo.
cinzas

mal preparo e acendo um fumo
e as cinzas
em preto e branco
que desabam
da ponta
em brasa
ardente
desejo
do cigarro
são espermas
que saem
do fálico.

*
mortas
abandonadas
vazias
tais quais
os que vão
pelo ralo.

**
a vida
é a busca
pelo coito.

***