MÁSCARAS ÓBVIAS

30 novembro 2006

2006

Hoje, quase 20 anos depois daquele ano, ainda tenho o hábito de de escutar várias vezes a mesma música. Em cada vez, faço um vídeo clipe.
Naquele tempo, tinha meus problemas de criança, os conselhos constantes das professoras para que minha mãe me levasse a um analista(?) e meu pai achando que a igreja ia ajudar. Vivia numa casa na cidade com ares de roça, muito pobre, com pés de cana, gioaba branca, galos que nos atacavam no quintal, num bairro sem asfalto, violento, voltado para o Monte Castelo, média pequena classe, mas asfaltado.
Naquele tempo, eu já tinha escutado o LP da "Arca de Noé", com aquelas músicas de bicho, nas vozes de um monte de gente que eu não sabia quem era, só pelos nomes. Depois fiquei sabendo que era "cool".
Eu também gostava da XUXA, mas nunca quis ser paquita, mas a Xuxa mesmo.

E daí

Naquele tempo eu já gostava de rock, sabia o nome dos atores e atrizes das novelas, tinha um namoradinho dois anos mais velho que eu, que parecia o vocalista do A-HA, uma banda norueguesa que fez sucesso na década de 80. O nome do meu namoradinho, porém, era o mais "severino" possível: "José Raimundo dos Santos 'Júnior'. Ele estudava na mesma sala que eu, era criado pela avó e pela mãe, tinha um irmão chamado André e ficava num abrigo para crianças carentes depois da escola.
Naquele tempo, meu cabelo já esbanjava personalidade própria e por isso "ele" pegou piolho. É, e daí?

Inacreditável

Foi em 89 que eu, na quarta série, corri de encontro a um poste, que eu não vi. Levei quatro pontos na testa: quatro por fora, três por dentro.

Meu 1o CCE

Fechei o ano na escola com notas altas já no mês de agosto, fui dispensada das provas finais - é naquela época isso era importante para quem estudava em escola pública que nem eu...Claro que em matemática eu não esperei mais que um "C", expressões numéricas, mal sabia naquela época o que eram as benditas matrizes...
Neste mês, naquele ano, meus pais me deram meu 1o walk-man, vermelho e preto, da CCE, com rádios AM e FM, mais tape. Meu presente predileto depois do livro do "Enigma do Desparecimento dos Dinossauros", que eu ganhei do meu pai em abril. É, eu queria ser paleontóloga. Minhas primeiras fitas cassetes foram: A-HA, Fábio Jr. e Top Model Internacional, só por causa de uma música da Tina Tunner, "I don't wanna loose you"...

vidros coloridos

No final do ano, as meninas do ginásio do Estevam Ferri tinham de apresentar algo para a feira cultural e nos pegaram (as meninas da 4a série) para cobaias. Ensaiamos uma sequência de passos de aeróbica sob o som do A-HA - meu consolo já que o Júnior tinha mudado de escola e esta era a nossa trilha de amor - ele era a cara do Martin, o vocalista, só que moreninho, muito lindo...

"You are the one"

Não fosse o fato de ter saído de casa sem café; sem pentear os cabelos; ainda fui para a apresentação de aeróbica na escola com os chinelões do meu pai nos pés - os primeiros que eu vi aos pés da cama, quando pulei dela. Esqueci de trocá-los pelo meu par de malacs vermelhos, sempre. Voltei para a casa da porta da escola, me atrasei para a apresentação - meu trote antes de entrar na 5a série. No fim, deu tudo certo.
"You are the one", do A-HA, foi o que aerobicamos. A música tinha na minha primeira fita cassete, também do A-HA. Mas acho que não sou tão diferente de uma garota de 10 anos em 1989.

Caleidoscópio

Eu sou a única, de tantas histórias e faces de mim mesma. Nada mais da mesma, claro. Sou rio, não poça. Ponte, não muro, isso aqui.

29 novembro 2006

Gozo

O ato de cagar é um gozo pelo cu. E alguns - cus - fazem até bico.

23 novembro 2006


Bala Dadinho
ou
Felicidade
A estética da embalagem - o papelzinho que embrulha, que veste, que encobre, que protege das impurezas - da bala Dadinho tem um quê de cultura hippie dos anos sessenta - ao menos nos meus devaneios. Me faz lembrar, a partir de minhas - enganosas ou não - referências, lenços de cabeça, vestimentas, enfim, dessa época de significativas transformações. A bala Dadinho já me deu momentos de felicidade.

22 novembro 2006

NERUDA!

Angela Adonica

Hoje deitei-me junto a uma jovem pura
como se na margem de um oceano branco,
como se no centro
de uma ardente estrelade lento espaço.

Do seu olhar largamente verde
a luz caía como uma água seca,
em transparentes e profundos círculos
de fresca força.

Seu peito como um fogo de duas chamas
ardía em duas regiões levantado,
e num duplo rio chegava a seus pés,
grandes e claros.

Um clima de ouro madrugava apenas
as diurnas longitudes do seu corpo
enchendo-o de frutas extendidas
e oculto fogo.

Que barra, que barraco...

Me disseram outro dia e me dizem desde sei ouvir, que Jesus morreu por nós, então não devemos desistir da nossa luta, que a dor dele pagou nossos pecados... - tá de minha parte tudo bem, sei que cometo pecados aos montes - mas fico pensando:
Que pecado cometeram essas crianças que morrem todos os dias de fome e de sede, que erro terá sido tão grave a uma mulher para ver seu filho agonizar numa cama, que muitas vezes nem é mesmo cama o lugar onde dormem e onde morrem.

Será que Jesus sofreu mais que todas essas pessoas que vivem em países que são bombardeados todos os dias, por que será que a dor dele foi maior e por que deveria ser melhor que a minha e que a do meu vizinho? A dor dele não foi por opção?
Pois então: a minha não é.

Agora seria justo eu ensinar meu filho dobrar os joelhos e agradecer a Ele todas as noites? e seria justo meu filho se prostar pra pedir perdão a Jesus?
E por que se meu filho nunca fez mau a ninguém?

Jesus é que devia me pedir perdão por ter feito um mundo tão ridículo e ainda mais por ter pregado que devemos aceitar sem reclamar.

13 novembro 2006

Canal de São Sebastião

Brisa suave

Que me despe o colo
Me toca o coração
A me sorrir e aliviar
Feito beijo de vento
De padre, proibido
Combustível a me consumir o corpo
Como vapores d' água
A me acariciar e perfumar a pele
E trazer tempestades

Brisa suave
Num dia de contrastes
O sol queima
A água envolve o corpo
Primeiro por trás do joelho:
Um arrepio que põe o corpo em riste
Até que eu mergulhe completamente
Brisa suave
Seque meu corpo
Me ame

A mensageira.
CINEMA ou a mascara moderninha

Minha concentração está perturbada pelo barulho
dessa minha insólita respiração enleante de pensamentos
que só querem voar longe e tão alto que páril
São somente à altura das batidas do meu coração

Meu coração inconsciente bate necessitado de psicodélicos
romances, beleza, aventura, emoção e, por favor!,happy end
End que não agüento só constante ser a boca com água de
Vontade dentro, embaixo, frio aqui, no quente do ventre

Suas cordas vocais diriam: durma, durma, durma, criança
dormiria e com todo prazer sonhando acordar e
Finalmente ver a hora de devorar o Café da manha em Plutão

elô

11 novembro 2006

Chega de clichê!,

invertamos e inventemos!
Assim convoco a todos os ninguéns a porem os seus chapeuzinhos multicor!,
a trazerem os seus apitos!,
a soprarem as suas línguas de sogra!

e a baterem as suas mãos numa comunhão de palmas!,
a cantarem!,
SARCASTICALEGREMENTE!,
um nosso novo parabéns!


Parabéns p'ra você
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitos poucos de vida!
Uma salva de palmas!

09 novembro 2006

Ô, senhora morena

Senhora morena que veste vestido colorido; linda pele, lindos cabelos e corte de cabelos, linda moça você vista de distância. Senhora morena que está grávida e a fumar pela calçada - passarela p'ra mim. Mais um infeliz que vem aí.

08 novembro 2006

S.P.
Canção de amor da jovem louca

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)

Sylvia Plath

07 novembro 2006

O visiotário

Lâmpada, não esquente.
Da parede saiu um braço magro de mulher.

Era pálido e tinha veias azuis.
Os dedos estavam carregados de preciosos anéis.
Quando beijei a mão, assustei-me:
Estava viva e quente.
Arranhou-me o rosto.
Peguei uma faca de cozinha e cortei algumas veias.
Um grande gato lambeu graciosamente o sangue do chão.
Entretanto um homem de cabelos arrepiados subiu
Por um cabo da vassoura encostado à parede.

Jakob van Hoddis
(1918)

05 novembro 2006

O ôba-ôba
Les echellesen roue de feu - de Joan Miró -
Certa vez, disse eu para vocês e para mim mesmo:
"Gentem!
"Os idiotas são necessários!!
"Eles animam o mundo!!!"
- bem, é um olhar e percepção meus, um "sentido otimista" para a idiotice humana (Nelson Rodrigues: "O otimista é um tolo em potencial."), enfim, uma idiotice minha. Isto aqui, que componho, é uma homenagem minha aos idiotas exibicionistas que, a qualquer aparição de uma câmera, se excitam em macaquices lúdicas, perante tal aparição. É como uma necessidade inconsciente - sem querer - de existir, de ser registrado na história. E a inspiração veio dessa obra de Miró.

04 novembro 2006

Incompletudes -

Falo um tanto de mim... a partir de mim... pois é de mim que me sinto. E mesmo assim - que bom - não faltam incompletudes.

03 novembro 2006

Que compartilhemos, então - que tentemos isso, ao menos! -, nossas tragédias zombeteiralegremente!